Reggae, do mesmo ano, em média, as pessoas desse grupo são expulsas de casa aos 13 anos de idade durante o processo de reconhecimento e transição. Além disso, apenas 0,02% dessa população teve acesso ao ensino superior e 70% não concluiu o ensino médio.
Em uma atividade recente, ao realizar uma pesquisa sobre as pessoas trans no mercado de trabalho, os únicos dados que encontrei foram levantados pela FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, em 2020. O estudo e revela que, das 528 pessoas trans entrevistadas de 7 cidades do Estado de São Paulo, apenas 13,9% de mulheres trans e travestis possuíam empregos formais. Já entre os homens trans o percentual foi maior, totalizando 59,4%, demonstrando que, em todas as condições, a diferença de gênero e desigualdade tem seus reflexos.
A falta de dados sobre a população trans formalmente incluída no mercado de trabalho, por si só é um fato alarmante. É o resultado de uma sociedade que não os enxerga como iguais em direitos de existência. Neste caso não é só a falta de oportunidades que não lhes abre espaços, mas uma falta mais profunda, de aceitação, amor, respeito e empatia. Não dá para negar que, em grande parte dos casos, essa falta tem início no ambiente familiar, que lhes nega entendimento, apoio e contribui para uma sociedade que os trata com extrema violência física e psicológica.
Deliberadamente pensando em um corte de gênero nessas relações, geralmente também está nas mulheres a força para impulsionar mudanças. E como é importante o papel de coletivos como o “Mães Pela Diversidade” ou o “Famílias da Resistência”, ambos com forte liderança feminina, para discutir, instruir e conscientizar que é permitido e possível amar quem vem diferente, amar quem amamos, mesmo que essa pessoa traga algo consigo que não entendemos, que não teremos como vivenciar ou proteger como gostaríamos.
Como lidar com algo que não entendo? Como apoiar e andar lado a lado com uma experiência de vida que é tão longe da minha? A resposta: amando corajosamente!
Amar de maneira plena e incondicional é um ato consciente e intencional, possível de ser cultivado. Não é fácil nem livre de dor. A compreensão também nem sempre vem junto com esse sentimento, mas com coragem para buscar abertura, pedir auxílio e com intenção genuína de troca e de aprendizagem ela é possível.
Por sermos mais da metade da população mundial e mães da outra metade, acredito que temos a chance de mudarmos radicalmente a sociedade. Cada uma de nós, com nossos comportamentos pequenos e diários, sendo exemplos umas para as outras e para os outros, na busca de conhecimento, entendimento, aceitação e apreciação de quem é diferente (e também de nós mesmas).
Coragem, palavra oriunda do latim coraticum (cor+ -aticum): associação entre a palavra latina cor, que tem como um dos significados a palavra coração, e o sufixo latino -aticum, que é usado para indicar a ação da palavra que o precede, sendo então, a “ação do coração”.
Essa “ação do coração” faz uma diferença enorme para quem se entende fora do padrão, longe da maioria. Digo isso com propriedade. Como mulher lésbica, todas as vezes que fui corajosamente defendida e aceita nesse aspecto, por quem me ama, senti meu peito mais aberto, minha coluna mais ereta, mais ar entrando nos meus pulmões e mais vida correndo nas minhas veias, como quem tem um lugar neste mundo.
Deixo aqui o convite para não esquecermos que o amor é a força mais revolucionária que existe, que com ele podemos, do jeito que for possível e com atitudes de qualquer tamanho, ajudar na construção para uma sociedade mais justa. Para isso, precisamos nos abrir, nos questionar e aprender em relação ao que nos é diferente ou desconhecido e amar de maneira ampla, intencional e corajosa.