
À frente do Marketing de uma das principais distribuidoras de combustíveis do Brasil e mais importante player nacional do segmento de energia, Vanessa Gordilho, vice-presidente de negócios, produtos e marketing da Vibra, conta um pouco sobre sua trajetória profissional, que teve início nos Palcos internacionais de dança clássica e se desenvolvem nos mercados financeiros e de tecnologia, até chegar ao mercado de energia ainda muito masculino.
Confira abaixo!
1) Sua trajetória profissional começou em uma área que está muito ligada ao universo feminino, o balé clássico. E todas as suas vivências posteriores foram em mercados marcados majoritariamente masculinos. Como foi essa transição? Quais foram os principais desafios?
R.: Minha história profissional foi marcada por transições e desafios, mas também por grandes conquistas e aprendizados. Comecei minha carreira no mundo da dança clássica, um universo predominantemente feminino. Desde cedo, me dediquei ao balé e sonhava com uma carreira como bailarina profissional. No entanto, aos 15 anos, tive a oportunidade de seguir os meus sonhos ainda mais longe, ao ganhar uma bolsa de estudos para o Ballet de Hamburgo, na Alemanha.
Foram três anos de imersão em um ambiente multicultural, onde tive a chance de me apresentar em grandes palcos europeus. Mas, com o tempo, percebi que a rotina de bailarina não era para mim. Sentia falta da minha família e amigos, e eu questionava se realmente era aquilo que eu queria para o meu futuro.
De volta ao Brasil, decidi cursar Comunicação Social e conciliar as aulas com as de balé. Foi nessa época que despertei para o mundo dos negócios e da tecnologia. O mercado financeiro, em franca expansão na época, me fascinou pela dinâmica e pelas oportunidades de crescimento.
Aos 22 anos, tomei a decisão de me mudar para os Estados Unidos para estudar MBA em Negócios e Gerenciamento com ênfase em Marketing na Universidade da Califórnia, em San Diego. Essa experiência me abriu portas para o mercado de trabalho internacional e me proporcionou um contato direto com as últimas inovações tecnológicas.
Minha carreira no mercado financeiro me permitiu vivenciar diversas transformações, como a migração do cartão de carga para o chip e a otimização dos pagamentos nas maquininhas. Sempre fui apaixonado pela tecnologia e pela sua capacidade de transformar vidas.
Em 2021, diante da pandemia de Covid-19 e dos desafios que o setor de saúde enfrentava, decidir buscar um novo propósito. Ingressei na healthtech QSaúde, como diretora-geral, com o objetivo de democratizar o acesso à saúde de qualidade para a população brasileira.
Em todos os casos a principal barreira é a mesma, estar inserido em um ambiente fortemente masculino e ter que sempre mostrar que nós mulheres podemos exercer de igual para igual, ou até melhor, muitas destas funções.
2) É possível estabelecer algum paralelo entre o preconceito sofrido pelos homens na dança clássica e o enfrentado pelas mulheres em setores como finanças, energia e tecnologia, por exemplo?
R.: Ao longo da minha trajetória, enfrentei diversos obstáculos e preconceitos. No mundo da dança, era comum ouvir que as mulheres não podiam ser coreógrafas ou maestras, cargas que geralmente eram ocupadas por homens. Já no mercado financeiro, tenho que lidar com a subestimação das minhas capacidades e com a falta de oportunidades de crescimento.
Mas nunca me deixei abater por essas dificuldades. Sempre acreditei na minha força e no meu potencial, e lutei para conquistar meu espaço e mostrar que as mulheres são capazes de realizar grandes feitos.
3) Com mais de 20 anos de trajetória profissional e vivência internacional, como você avalia a evolução de temas como liderança feminina e equidade de gêneros no país e no exterior? A realidade atual é diferente do seu início de carreira?
R.: Ao longo deste período, pude observar a evolução dos temas relacionados à liderança feminina e à equidade de gênero. Apesar dos avanços significativos, como o aumento do número de mulheres em cargos de poder, ainda há muito a ser feito para alcançarmos uma verdadeira igualdade.
Em alguns países, como os nórdicos, a equidade de gênero é mais presente do que em outros. No entanto, mesmo nos países mais desenvolvidos, as mulheres ainda enfrentam desafios como conciliar trabalho e vida familiar e lidar com estereótipos de gênero.
4) Do ponto de vista do consumidor, o setor de energia ainda parece ser construído de homens para homens. Você acredita que, assim como o setor de bebidas, que tem repaginado sua comunicação para se livrar de estereótipos e vieses inconscientes, o setor de energia também vem evoluindo para incluir o público feminino?
R.: O setor de energia, por muito tempo, foi considerado um ambiente masculino. As campanhas publicitárias e a comunicação das empresas geralmente reforçavam essa imagem, associando o setor à força bruta e aos carros.
No entanto, nos últimos anos, as empresas do setor de energia têm se esforçado para mudar essa realidade. Campanhas publicitárias mais inclusivas e a presença de mulheres em cargos de liderança são alguns exemplos dessa mudança. Inclusive isso é parte do meu propósito no marketing: diversificar as campanhas de forma a encontrar maneiras diferentes de aumentar o engajamento nos mais diversos públicos, afinal, não é só homem que dirige e abastece carro. O público feminino ainda se sente representado pouco no setor, especialmente em áreas técnicas.
5) A Vibra é um dos principais players do setor. Quais são as iniciativas que uma empresa tem desenvolvido para ampliar a representatividade feminina? Existe um trabalho focado para a liderança?
R.: Atualmente sou Vice-Presidente de Marketing, Produtos e Negócios da Vibra Energia, uma das maiores empresas de energia do Brasil. A minha chegada já foi uma quebra de paradigma do setor. Assumir esse cargo em uma companhia masculina foi um grande desafio, mas também uma oportunidade de mostrar que as mulheres podem liderar e fazer a diferença em qualquer área.
A Vibra é um dos principais players do setor de energia e está comprometida com a promoção da representatividade feminina. A empresa já atingiu 39% de mulheres em seus postos de trabalho em 2023, um recorde na história da companhia.
Além disso, a empresa destinou R$ 150 milhões para startups lideradas por mulheres e oferece mentoria para mulheres dentro e fora da empresa, focando em áreas como pitch e planos de negócios.
Estamos fazendo esforços em todas as áreas, da base ao topo. A companhia busca aumentar ainda mais o número de mulheres em cargas de liderança, mas ainda há desafios a serem superados. A empresa está implementando diversas iniciativas para promover o patrimônio do gênero e garantir que as mulheres tenham as mesmas oportunidades de crescimento e desenvolvimento que os homens.
Acredito que a liderança feminina é fundamental para o sucesso de qualquer empresa. As mulheres trazem diferentes perspectivas, experiências e habilidades para a mesa, o que contribui para a tomada de decisões mais abrangentes e inovadoras.
Estou confiante de que a Vibra continuará a progredir em sua jornada de equidade de gênero e que, em breve, poderemos ter um setor de energia mais justo e inclusivo para todos.