Para especialista, elas se julgam menos qualificadas para assumir desafios no trabalho. Por Letícia Arcoverde, de São Paulo
Enquanto escrevia seu primeiro livro, “Womenomics: A Tendência Econômica por Trás do Sucesso Pessoal e Profissional das Mulheres”, a jornalista Claire Shipman se surpreendeu com um fato: muitas mulheres com as quais falou disseram não se sentirem qualificadas o suficiente para a posição que haviam conquistado, mesmo sendo reconhecidamente bem-sucedidas. “A palavra com F – “fraude” – aparecia com frequência nas nossas conversas”, diz.
Foi assim que Claire e sua coautora, Katty Kay, tiveram a ideia para o segundo livro fruto da parceria, “A Arte da Autoconfiança”, lançado no mês passado no Brasil pela Benvirá. O trabalho reúne estudos que discutem por que mulheres têm menos confiança no âmbito profissional do que homens e como isso as prejudica na hora de avançar na carreira.
“No geral, mulheres são mais focadas em adquirir competência, enquanto homens têm mais confiança nas próprias habilidades. No entanto, descobrimos que para obter sucesso na carreira a autoconfiança chega a ser mais importante do que a competência”, diz.
Em sua opinião, esse desequilíbrio entre os gêneros aparece de diversas formas. Há, por exemplo, estudos que mostram que mulheres só se candidatam a uma vaga quando reúnem 100% das qualificações exigidas, enquanto homens se arriscam mesmo quando têm apenas metade das habilidades buscadas pelo empregador. Outra pesquisa perguntou a homens e mulheres como eles se saíram em um teste e, mesmo quando ambos tiveram desempenho similar, as mulheres eram mais propensas a dizer que haviam ido mal, enquanto os homens superestimavam a própria performance.
“Todos os dados apontam para um padrão consistente no qual as mulheres desvalorizam as próprias qualificações. Há uma atitude, mesmo em coisas do dia a dia, que faz com que elas não se posicionem mais firmemente”, enfatiza. Isso engloba desde dificuldades para negociar salários ou promoções, até desistir de fazer uma apresentação por achar que ela não está boa o suficiente. “Com o tempo, essas pequenas decisões acumulam.”
Parte do problema está em uma aversão a risco que costuma aparecer com mais frequência nas mulheres – algo explicado tanto por fatores biológicos quanto pelo comportamento exigido de garotas desde cedo. “Para ter confiança é preciso tomar riscos. O processo de agir e talvez falhar, de aprender e eventualmente ser bem-sucedida, é o que cria confiança em uma pessoa”, afirma. No geral, diz Claire, as mulheres tendem a olhar mais para o longo prazo e operar com mais cautela – habilidades que também são extremamente importantes na gestão, mas que precisam ser equilibradas com um apetite maior pelo risco.
Um dos fatores que Claire investigou é porque jovens mulheres com excelentes históricos no colégio e na faculdade acabam perdendo a confiança ao entrarem no mercado de trabalho, ficando para trás ao longo da carreira na comparação com seus colegas do sexo masculino. As regras da vida acadêmica são muito diferentes do mundo real. “Desde cedo, garotas são ensinadas a serem perfeitas, ter bom comportamento e entregarem todos os trabalhos. Quando chegam ao ensino médio, elas se tornaram perfeccionistas – e perfeccionistas não tomam risco por medo de falhar”, explica.
É nesse ponto que empresas podem contribuir para garantir que as profissionais usem todo o seu potencial. De acordo com a autora, as mulheres que estão entrando no mercado de trabalho precisam sair da zona de conforto. “A confiança pode ser construída. Isso é possível ao expor jovens profissionais desde o início da carreira a situações que envolvem risco e até em ações menores, como garantir que todos participem de uma reunião”, afirma.
Outro ponto importante para o desenvolvimento profissional das mulheres, segundo Claire, é que elas interpretam o feedback de maneira diferente, concentrando-se tanto nas críticas negativas que chegam a ignorar os retornos positivos. “Para evitar isso, empresas mais inteligentes instruem os gestores a perguntarem ‘o que você tirou de tudo o que eu disse?’, logo em seguida a uma avaliação”, exemplifica.
Para Claire, um dos fatores mais importantes que impedem a ascensão das mulheres, no entanto, é que não existe igualdade de oportunidades para ambos os sexos – e as empresas precisam ficar atentas a isso. “O mundo do trabalho foi criado por homens e funciona para eles”, diz.
A situação recorrente que muitas executivas em posição de poder vivem – de serem a única em uma sala repleta de homens – tem um efeito negativo na autoconfiança e pode resultar em um desempenho pior, apontam estudos. “É importante poder olhar para cima e ver que alguém como eu já fez o que eu quero fazer. Isso mostra que é possível.”
Por mais que as organizações se esforcem para criar um ambiente favorável a essa diversidade de comportamentos, construir a confiança é um processo pessoal. “É preciso se acostumar a fazer coisas que não ficarão exatamente do jeito que você gostaria e assumir mais riscos”, diz. Segundo Claire, é uma questão de se dar limites e criar regras mentais que garantam que você não acabe se sabotando por medo de falhar.
É fundamental também criar uma consciência maior entre os homens, de que eles podem possuir preconceitos internos e inconscientes que julgam habilidades de liderança com base na própria experiência. Para Claire, essa conversa evoluiu bastante desde que ela lançou seu primeiro livro sobre o tema, em 2009. “Educar a todos para um objetivo comum é essencial”, diz.
Por fim, Claire destaca que é preciso ter em mente que o propósito deve ser atingir o equilíbrio entre confiança e competência. “Não pode haver uma distância tão grande entre essas duas coisas. É isso o que leva a resultados desastrosos”, afirma.
LIVROS DE CLAIRE SHIPMAN
Confiança. Uma qualidade-chave para o sucesso. Algo de que as mulheres tanto precisam, mas que está cada vez mais em falta na nossa vida. Por que isso acontece? Por que somos tão ansiosas e inseguras? Por que temos tanto medo de expressar nossas ideias?
Na tentativa de ajudar muitas mulheres que sofrem com esse problema, Katty Kay e Claire Shipman, duas renomadas jornalistas americanas, mergulharam a fundo no assunto. Elas se reuniram com neurocientistas, analisaram estudos feitos com ratos e macacos, visitaram importantes psicólogos, e perguntaram a eles: o que as mulheres podem fazer para se tornar mais confiantes? Há alguma saída, ou será que já nascemos assim? Elas também conversaram com uma série de mulheres fortes e bem-sucedidas em várias áreas (nos esportes, na política, no Exército, nas artes) e obtiveram delas dicas preciosas sobre como superaram esse problema tão tipicamente feminino (quem não gostaria de receber conselhos de Christine Lagarde, diretora do FMI?).
O resultado de toda essa pesquisa é este best-seller que você tem em mãos. Com ele, executivas de grandes empresas, estudantes, profissionais das mais diversas áreas – e até mesmo mães – poderão encontrar respostas simples e reveladoras que as ajudarão enormemente no desenvolvimento de suas carreiras. Não seria ótimo se você pudesse finalmente se livrar da ansiedade, deixar de se importar com o que os outros pensam e conquistar todas as coisas que sempre desejou, mas que nunca buscou por falta de confiança? COMPRAR ESTE LIVRO NA SARAIVA
Em ‘Womenomics’, as autoras afirmam que, depois de décadas de tentativas de equipararem-se aos homens no âmbito profissional e lutando nas trincheiras dos escritórios das décadas de 1980 e 1990, as mulheres ganharam respeito suficiente para começarem a adaptar o ambiente de trabalho às suas necessidades. Shipman e Kay examinam a profundidade da influência feminina como consumidoras e detentoras de capital, sustentando a idéia de que o poder feminino dá às mulheres o direito e a habilidade de requerer flexibilidade em seus empregos e negociar assertiva e efetivamente suas necessidades. COMPRAR ESTE LIVRO NA SARAIVA