Embora o debate sobre a igualdade de gêneros, a valorização da mulher no mercado de trabalho e a necessidade de se garantir as mesmas oportunidades a homens e mulheres venha ocupando cada vez mais espaço, ainda há muito a ser feito, de modo que este processo possa ser acelerado, ao invés de se arrastar por muitos anos a fio, ainda. Esta é a conclusão unânime do encontro que reuniu, nesta quinta-feira, executivos de várias empresas e setores, entre eles a advogada Silvia Fazio, presidente da WILL – Women in Leadership in Latin America – no auditório do Pinheiro Neto Advogados, para apresentação da pesquisa “O ciclo de vida do GAP de Gêneros” realizada pela Oliver Wyman, empresa global de consultoria estratégica em gestão, com grande foco em serviços bancários e financeiro.
Na abertura do evento, intitulado’ Mulheres no setor financeiro e no setor público no Brasil’, Ana Carla Abrão Costa, sócia da Oliver Wyman, chamou à atenção para o gap salarial entre os gêneros e disse que não existe uma causa única para isso: ‘Não é só porque as mulheres talvez optem por carreiras de menor remuneração, nem só porque priorizam a vida pessoal. Há um conjunto de causas que leva as mulheres a enfrentarem essas dificuldades, inclusive a forma como educamos os nossos filhos”. Ana Carla defendeu a criação de licença parental, deixando de ser algo exclusivo para as mulheres – uma vez que o conceito de família também mudou muito e pode ser, inclusive, composta por pessoas do mesmo sexo – e das creches em tempo integral, pois não se pode deixar de lado as mulheres de baixa renda que, para poderem trabalhar, precisam ter onde deixar os seus filhos. Ainda de acordo com a executiva, há outras questões prioritárias que precisam ser discutidas para que, de fato, se possam proporcionar condições igualitárias para os gêneros, como a possibilidade de trabalhos remotos (home office) e flexibilização de horários, por exemplo. Iniciativas como essas poderão colaborar para evitar que as mulheres tenham que optar entre o trabalho e a família.
O painel sobre o setor público foi mediado por Larissa Galimberti, sócia do Pinheiro Neto Advogados, com a participação de Eduardo Marchiori, presidente da Mercer Brasil, e Ana Paula Vescovi, secretária executiva do Ministério da Fazenda. Primeira mulher a ocupar o cargo de Secretaria do Tesouro Nacional, Ana Paula mostrou-se favorável à meritocracia em detrimento às cotas para gêneros, sem considerar, no entanto, as desigualdades sociais do país.” O mais importante é o reconhecimento das igualdades diante de oportunidades iguais”, disse. Ela finalizou lembrando a importância de se criarem formas de ajudar as mulheres a acreditarem no seu potencial, afinal, a escolaridade das mulheres somada à atenção que dão à saúde são superiores, se comparadas aos homens, o que as coloca em condições favoráveis, embora não se sintam, muitas vezes, estimuladas para crescer na carreira.
Eduardo Marchiori mostrou que, embora 52% dos homens reconheçam a importância da equidade de gêneros, apenas 38% se disseram engajados na causa, dispostos a fazer realmente algo para que se atinjam níveis ideais. Ele também defendeu que os homens assumam um papel relevante neste sentido, para que as mudanças ocorram. No setor público, informou, as mulheres têm representação similar na administração pública federal, porém, são pouco representadas nos cargos mais altos.
Leila Melo, diretora executiva do Itaú Unibanco, além de diretora e membro do board da WILL foi uma das convidadas para o painel sobre o setor financeiro, juntamente com José Berenguer, presidente do JP Morgan Brasil, Vanessa Lobato, vice-presidente do Santander Brasil, Regina Madalozzo, professora do Insper e Paula Mazanék, gerente geral do Banco do Brasil.
Segundo Leila, a ascensão é o maior desafio das mulheres no ambiente profissional. Ela aponta que, embora no Itaú já se possa ver equidade nos primeiros níveis de gestão, quando se sobe na pirâmide, o que se observa é que ainda há muitos degraus a galgar, até que se alcance a tão desejada igualdade entre sexos.
“Quando olhamos a última pesquisa do IBGE, divulgada em março, vemos que a participação das mulheres em cargos de liderança no Brasil caiu de 39,5% para 37,8%, entre 2011 e 2016”, destaca, informando que na empresa em que trabalha, com cerca de 99 mil empregados, as mulheres correspondem a 60% do total. Porém, diz Leila, até o primeiro nível de gestão, pode-se dizer que haja equilíbrio de gênero (51%), mas, a partir do cargo de gerente, é nítido que ainda há muito a evoluir.
Contudo, de acordo com a executiva do Itaú Unibanco, há uma mudança muito positiva no fluxo de promoção de mulheres: nos últimos dois anos, cerca de 35% de mulheres foram promovidas para os cargos mais altos da instituição. A pressa deve-se não apenas a uma questão de direito, mas, inclusive, porque está comprovado que as empresas com maior diversidade são mais eficientes e capazes de atrair e reter talentos, além de gerarem negócios de maneira mais sustentável, por haver diversidade de ideias e criatividade em seus times.
Para José Berenguer, presidente do JP Morgan Brasil, isso significa ‘não ter uma visão cínica: a equidade é importante porque sim, todos devem ter as mesmas oportunidades, mas também porque isso é bom para os negócios’, enfatiza. “Apesar de a diretoria executiva já ser composta por mulheres, diz, “queremos melhorar ainda mais isso, porque é justo, igualitário, correto e lucrativo”.
Já a executiva do Banco do Brasil, Paula Mazanék, enfatizou a importância da sororidade entre as mulheres. Apesar de ser quase uma exceção, ela lembrou que, nos 17 anos em que está no Banco, foi encorajada por homens a se sentir capaz e defendeu que as mulheres sejam protagonistas neste sentido, encorajando as demais. “Se nos colocarmos no polo passivo, esta assimetria ainda vai levar muito tempo para deixar de existir”, concluiu.
Também neste painel, também foi discutida a questão de cotas e, dessa vez, coube à Vanessa Lobato, do Santander, uma posição divergente da apresentada no painel anterior. Para a executiva, ‘meritocracia é uma ótima maneira de mostrar aos demais que ‘eu não preciso fazer nada’. Sim, precisamos fazer e muito, todos nós. Precisamos adotar ações afirmativas, inclusive nas seleções; precisamos encorajar, muito mais do que empoderar as mulheres. Sei que a jornada é longa, mas é preciso que se faça isso, porque assim será melhor não apenas para os negócios, mas para o mundo’, finalizou.
A necessidade de promover a equidade de gêneros e, mais ainda, a diversidade de maneira mais abrangente nas empresas foi, mais uma vez, reforçada por Leila Melo: “52% da população brasileira é formada por negros e mais de 51% são mulheres, segundo dados do IBGE. O Itaú tem hoje mais de 70 milhões de clientes em todo o Brasil, um estrato da sociedade. É fundamental, nos dias de hoje, que, para a sobrevivência das empresas, as pessoas sintam-se representadas. Se não promovermos a equidade e a diversidade apenas porque este é o certo a se fazer, que pelo menos não se esqueça de que, sem isso, não se poderá falar em sustentabilidade das empresas e de seus negócios’, encerrou.