O inimaginável aconteceu: fomos jogados no futuro. Um futuro impensável pouco tempo atrás, em que o planeta se isola para combater um vírus altamente contagioso e mortal. A sociedade foi compelida a reinventar seu modus operandi, praticamente da noite para o dia. Inúmeros profissionais e setores da economia precisam parar por completo suas atividades, outros trabalham dobrado para garantir o que é essencial à vida, mas todos se veem obrigados a adaptar as suas rotinas. E cresce um espírito de solidariedade entre as pessoas, formando uma grande rede de apoio que, quero crer, será a base para a nossa sociedade pós-coronavírus.
É um desafio que demanda alto grau de adaptabilidade dos negócios e relações, com soluções assertivas e rápidas, que exigem repensar processos e canais, descobrir e até antecipar novas necessidades. Um desafio que nos relembra a riqueza de oportunidades que as crises têm e como podemos contribuir da melhor forma para ajudar o País a superar essa situação.
Muito discutimos em fóruns recentes sobre novas carreiras e formas de trabalhar. Apesar de sabermos que a economia vai sofrer, é um momento de grande produção intelectual e criatividade, que também está ressignifcando as relações de trabalho. Estamos quebrando paradigmas culturais, achatando estruturas hierárquicas, construindo um dia a dia pautado em confiança e guiado por objetivos comuns. Reuniões estão mais céleres e decisões mais rápidas. É um processo que exige adaptação e ainda precisamos aparar arestas mas, certamente, nossas relações profissionais não serão como antes e isso terá impactos muito positivos nos negócios.
No Itaú Unibanco, onde atuo, novas ações são colocadas em prática diariamente e já são dezenas de providências para manter o funcionamento das nossas operações nessas condições adversas. Pensando no bem-estar dos nossos colaboradores, afastamos aqueles que pertencem a grupos de risco, idosos e grávidas, além de habilitar o trabalho em home office para aproximadamente 40.000 pessoas. Aderimos ao abaixo-assinado “Não Demita”, e ainda anteciparemos 100% do 13º salário para o mês de abril. Nas agências físicas, reduzimos a presença física dos colaboradores, estabelecendo um programa de rodízio, além de limitar a entrada de clientes e adotar horários para atendimento exclusivo a idosos e pensionistas.
Todos os dias estudamos novas condições e mudanças em produtos para adaptação a esse momento delicado. Ajustamos as políticas para incentivar o uso dos canais digitais pelos clientes, aumentando o limite para transações remotas.Também flexibilizamos condições em diversos produtos, como opções de adiamento das parcelas de empréstimo pessoal, fnanciamento, crédito imobiliário e capital de giro para empresas cujos contratos estão em dia. Aderimos ao fundo emergencial de R$ 40 bilhões anunciado pelo governo para financiamento de folhas de pagamentos de pequenas e médias empresas, com o aporte de R$ 6 bilhões e a garantia de que o valor chegue às empresas para a manutenção de empregos em meio à crise.
Reconhecendo a responsabilidade de ser o maior banco privado da América Latina, anunciamos a doação de R$ 1 bilhão para combater o novo coronavírus e minimizar os efeitos da pandemia. O recurso será transferido para a Fundação Itaú para a Educação e Cultura e administrado por um grupo de profissionais da área de saúde liderados pelo médico Paulo Chapchap, diretor-geral do HospitalSírio-Libanês. Também destinamos recursos adicionais à compra de cestas de alimentos e higiene para as populações mais vulneráveis, apoiamos iniciativas de produção de respiradores e de construção e ampliação de hospitais. Emparceria com o Bradesco e Santander, destinamos R$ 50 milhões para a compra de máscaras de tecido produzidas por microempreendedoras para distribuição às secretarias estaduais de Saúde e comunidades vulneráveis. É uma forma não só de conter a disseminação do vírus, como também de apoiar negócios de pequenas empreendedoras investindo na capacidade produtiva e garantindo a compra da produção.
Mas se, por um lado, já está clara a responsabilidade das grandes empresas como agentes de mudança, por outro, não podemos restringir o tema ao mundo corporativo, porque o processo de transformação por que estamos passando é coletivo. Essa crise também nos abre portas e podemos encontrar um mundo muito melhor lá fora quando a quarentena acabar. Depende de como cada um de nós vai olhar para esse desafo hoje e como passaremos a lidar com a coletividade. Então, eu convido a todos a refletir em sobre como podemos transformar o entorno à nossa volta e fomentar uma cadeia positiva de atitudes, fortalecendo a rede de apoio. Que consigamos sair fortalecidos e mais solidários dessa crise como indivíduos e como sociedade.